sábado, 27 de setembro de 2014

VAMOS COMER CARURU?


Janaina Couvo

            
            A alimentação nas religiões afro-brasileiras está presente em todos os momentos, fazendo parte dos diversos rituais que as compõe.  Assim, desde o momento em que o indivíduo adentra a este campo religioso, até o momento em que ele morre, a presença da alimentação é uma constante.  Em momentos de grande felicidade assim como principalmente nas dificuldades, os iniciados procuram, através das oferendas alimentares, manter uma relação de proximidade com as divindade africanas e fazer seus pedidos ou agradecer através do alimento oferecido.    
    
Servindo a comida votiva dos erês

    
            A comida também pode ser analisada a partir do momento em que ela vai servir como elemento de sociabilidade entre os homens e os Orixás.  Na realização das festas religiosas a alimentação é inicialmente ofertada para as divindades e, depois socializada com todos os iniciados e demais presentes na cerimônia.
            É o caso do Caruru, comida votiva para as divindades infantis, os Erês, Ibêjis, Vunjis, e que reúne durante os meses de setembro e outubro, dezenas de pessoas em terreiros de umbanda e candomblé de várias partes do país.   Comida feita à base de quiabo, camarão  e dendê,  é preparada nos espaços religiosos seguindo alguns preceitos, que se estendem até o ritual.  Por exemplo, durante as ceias para as crianças, o caruru é servido com alguns acompanhamentos, entre eles o arroz, a abóbora, pedaços de frango, e deve ser comido, em alguns terreiros, sem talheres, com as mãos.  Outros permitem que as crianças utilizem talheres.  Assim é que se come durante os  ritos sagrados voltados às divindades infantis.

Comento o caruru 


        O modo de fazer o caruru  também traz algumas particularidades regionais, pois é feito com o camarão defumado e a ausência do leite de coco na Bahia.  Em Sergipe existe a presença do leite de coco e do camarão torrado no preparo do caruru, o que o torna com um sabor diferenciado.  Assim, independente dos modos de fazer esta comida, ela tem uma popularidade que ultrapassa o espaço sagrado dos terreiros, estando presente nos restaurantes, dos mais simples aos mais sofisticados, além das das residências, onde costuma-se fazer o caruru dia de sexta feira ou em finais de semana.


O caruru

     É importante ressaltar que a sacralização da comida não está somente relacionada ao preparo,  mas também se estende à compra dos ingredientes nos mercados.  tudo é ritualizado e deve "descansar" antes de entrar para a cozinha dos orixás, que não é o mesmo espaço da cozinha cotidiana do terreiro.  São panelas, pratos, entre outros objetos da cozinha que são específicos para o preparo do alimento sagrado, da comida que vai ser oferecida às divindades.  Já o que será oferecido à comunidade,  pode ser preparado na cozinha da casa, pois trata-se do alimento que será socializado entre a comunidade religiosa e os visitantes do terreiro. 
       Os acompanhamentos do Caruru dos Erês é tudo aquilo que criança gosta: doces,  bolos, refrigerantes, e principalmente os brinquedos.  Muitos pagam suas promessas, vestindo as crianças gêmeas com roupas iguais ou nas cores das roupas de Cosme e Camião.


A ceia de Cosme e Damião


         O “ajeum”, termo yorubano usado para designar a comida, é considerado como um momento de socialização em torno do alimento, onde adeptos, comunidade local e visitantes se encontram para celebrar em torno da comida, as bençãos dos erês, ibêjis, vunjis, e de Cosme e Damião!




E VAMOS COMER CARURU!!!




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