sábado, 27 de junho de 2015


UM PASSEIO PELA CULTURA NO MERCADO TALES FERRAZ - ENSAIO FOTOGRÁFICO


Janaina Couvo

Criado em 1949, o Mercado Tales Ferraz, em Aracaju, reúne uma diversidade de elementos culturais que ultrapassam as representações da cultura sergipana, sendo possível encontrarmos referências ao artesanato de outros estados.  Porém, é o espaço onde o visitante pode encontrar representaçoes da cultura local,  marcado por uma variedade do seu artesanato.  
Além disso, o Mercado também tem os seus personagens, que diariamente estão lá, comercializando seus produtos, como Dona Izabel Bonequeira, Seu Careca, O forrozeiro Boca Louca e o filho do saudoso João Firmino Cabral, comercializando os livretos de cordel.
Passear dia de sábado no Mercado Talez Ferraz é se encantar pela beleza e diversidade da arte popular que ali está representada, e que hoje pode ser visualizada neste ensaio fotográfico.

Mercado Tales Ferraz- Aracaju































E VIVA A CULTURA DOS MERCADOS!!!!!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

PRESENTES PARA A RAINHA DO MAR

     

  Levar presentes para Iemanjá é um ritual que acontece todos os anos no dia 2 de fevereiro em várias partes do país.  Em Salvador, Bahia, o bairro do Rio Vermelho recebe  centenas de pessoas anualmente neste dia, com  os mais diferentes presentes para serem entregues à Rainha do Mar.
         

Presente entregue na Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho

          O presente principal da festa é organizado pelos pescadores  da comunidade do Rio Vermelho.  

O presente dos pescadores


        São pessoas do candomblé , da Umbanda, ou  pessoas que não pertencem às religiões afro-brasileiras mas tem sua devoção com Iemanjá, levam de uma simples rosa a um grande balaio decorado com perfumes, bijuterias, flores, pentes, espelhos e os mais diferentes objetos femininos. 



         Alguns fazem questão de enfrentar as enormes filas que se formam nas proximidades da Casa de Iemanjá, onde é montado um barracão para serem colocados os presentes que os pescadores levarão ao mar ao longo do dia.

A fila para entregar os presentes

        Outros fazem questão de  levar pessoalmente ao mar ou seguindo nas embarcações que ficam à disposição na praia.  O cheiro de alfazema e as centenas flores jogadas ao mar contribuem para a decoração particular deste dia na praia do Rio Vermelho.



         A fé e a devoção em torno de Iemanjá pode ser observada ao longo de todo o dia, tendo o seu momento mais importante quando a imagem com o presente dos pescadores é levado ao mar.




         Assim, todos os anos, a Rainha do Mar recebe seus presentes.

Janaina Couvo
Texto e fotografias

O presente dos pescadores sendo levado ao mar..





sábado, 27 de setembro de 2014

VAMOS COMER CARURU?


Janaina Couvo

            
            A alimentação nas religiões afro-brasileiras está presente em todos os momentos, fazendo parte dos diversos rituais que as compõe.  Assim, desde o momento em que o indivíduo adentra a este campo religioso, até o momento em que ele morre, a presença da alimentação é uma constante.  Em momentos de grande felicidade assim como principalmente nas dificuldades, os iniciados procuram, através das oferendas alimentares, manter uma relação de proximidade com as divindade africanas e fazer seus pedidos ou agradecer através do alimento oferecido.    
    
Servindo a comida votiva dos erês

    
            A comida também pode ser analisada a partir do momento em que ela vai servir como elemento de sociabilidade entre os homens e os Orixás.  Na realização das festas religiosas a alimentação é inicialmente ofertada para as divindades e, depois socializada com todos os iniciados e demais presentes na cerimônia.
            É o caso do Caruru, comida votiva para as divindades infantis, os Erês, Ibêjis, Vunjis, e que reúne durante os meses de setembro e outubro, dezenas de pessoas em terreiros de umbanda e candomblé de várias partes do país.   Comida feita à base de quiabo, camarão  e dendê,  é preparada nos espaços religiosos seguindo alguns preceitos, que se estendem até o ritual.  Por exemplo, durante as ceias para as crianças, o caruru é servido com alguns acompanhamentos, entre eles o arroz, a abóbora, pedaços de frango, e deve ser comido, em alguns terreiros, sem talheres, com as mãos.  Outros permitem que as crianças utilizem talheres.  Assim é que se come durante os  ritos sagrados voltados às divindades infantis.

Comento o caruru 


        O modo de fazer o caruru  também traz algumas particularidades regionais, pois é feito com o camarão defumado e a ausência do leite de coco na Bahia.  Em Sergipe existe a presença do leite de coco e do camarão torrado no preparo do caruru, o que o torna com um sabor diferenciado.  Assim, independente dos modos de fazer esta comida, ela tem uma popularidade que ultrapassa o espaço sagrado dos terreiros, estando presente nos restaurantes, dos mais simples aos mais sofisticados, além das das residências, onde costuma-se fazer o caruru dia de sexta feira ou em finais de semana.


O caruru

     É importante ressaltar que a sacralização da comida não está somente relacionada ao preparo,  mas também se estende à compra dos ingredientes nos mercados.  tudo é ritualizado e deve "descansar" antes de entrar para a cozinha dos orixás, que não é o mesmo espaço da cozinha cotidiana do terreiro.  São panelas, pratos, entre outros objetos da cozinha que são específicos para o preparo do alimento sagrado, da comida que vai ser oferecida às divindades.  Já o que será oferecido à comunidade,  pode ser preparado na cozinha da casa, pois trata-se do alimento que será socializado entre a comunidade religiosa e os visitantes do terreiro. 
       Os acompanhamentos do Caruru dos Erês é tudo aquilo que criança gosta: doces,  bolos, refrigerantes, e principalmente os brinquedos.  Muitos pagam suas promessas, vestindo as crianças gêmeas com roupas iguais ou nas cores das roupas de Cosme e Camião.


A ceia de Cosme e Damião


         O “ajeum”, termo yorubano usado para designar a comida, é considerado como um momento de socialização em torno do alimento, onde adeptos, comunidade local e visitantes se encontram para celebrar em torno da comida, as bençãos dos erês, ibêjis, vunjis, e de Cosme e Damião!




E VAMOS COMER CARURU!!!




sexta-feira, 27 de setembro de 2013

É DIA DE DOCES, BALAS E CARURU DE COSME E DAMIÃO!

Texto: Janaina Couvo T. M. de Aguiar


            Durante todo o mês de setembro, seguindo até o mês de outubro, são realizadas nos terreiros de Umbanda e Candomblé, ou nas casas dos devotos, as festas dedicadas a São Cosme e São Damião.  Trata-se de uma devoção secular, trazida para o Brasil pelos portugueses, e que logo encontrou adeptos em toda parte.  Em Pernambuco, na região de Igaraçu, foi construída em 1535 uma Igreja dedicada a estes santos, considerada por muitos estudiosos como um dos primeiros templos católicos do país.

A HISTÓRIA DOS SANTOS



            Cosme e São Damião eram gêmeos e pertenciam a uma família nobre, no século III.  Estudaram medicina na síria e logo que concluíram seus estudos passaram a praticar na região de Egéia e de toda a Ásia Menor.  Na realização do seu trabalho eles não aceitavam dinheiro, sendo considerados anargiros, ou seja, “inimigos do dinheiro”.
         Uma outra característica do trabalho dos  irmãos médicos era que eles, sempre que atendiam, enfatizavam o nome de Jesus Cristo , o que despertou a atenção dos governantes locais. Em relação a morte de Cosme e Damião existem muitas versões, sem comprovação histórica.  Contam que  eles foram jogados ao mar, mas sobreviveram. Depois  foram queimados vivos e até apedrejados, porém, “milagrosamente”, eles  eram salvos.   Por último, foram decaptados em 27 de setembro de 287.
            No local foram registrados, após a morte dos irmãos médicos, muitos milagres relacionados à cura de determinadas doenças.  O Imperador Justiniano também foi curado de uma enfermidade, o que fez com que ele mandasse erguer duas grandes Igrejas dedicadas a eles.   Em Roma, o Papa Félix IV mandou construir uma Basílica dedicada a São Cosme e São Damião. 
Entre os católicos, estes santos são protetores dos médicos, farmacêuticos e das crianças.

 A DEVOÇÃO E A FESTA

            Em várias regiões do país encontramos famílias que são devotas de São Cosme e Damião e muitas estão associadas à presença de gêmeos.  Assim, é costume a distribuição de doces e demais guloseimas em sacolinhas com a imagem dos santos para as crianças, que saem às ruas visitando as casas onde acontecem as festividades.  Além desta distribuição, alguns também servem comidas e bebidas, como bolos, refrigerantes e o caruru.

A ceia para as crianças
Foto: Janaina Couvo

            Esta última comida também é servida nos terreiros de Umbanda e Candomblé, quando as festas são dedicadas aos Vunjis, Ibêjis ou Erês, divindades infantis que foram sincretizadas com os Santos Cosme e Damião.
            Na África de língua yoruba, segundo o pesquisador Vivaldo da Costa Lima, existe a devoção aos Ibêjis, divindades que as famílias cultuam quando existem gêmeos.   Logo que nascem, o pai procura um Babalaô[1] com o intuito de receber as orientações para a obrigação religiosa que deve ser feita a estas divindades.  E ainda, manda esculpir, na madeira, duas pequenas estátuas, representações dos ibêjis, que irão acompanhar as crianças por toda a vida.  Estas são enfeitadas com roupas e demais adereços, recebendo todas as oferendas.
As mulheres, de acordo com o autor, quando têm gêmeos, é costume saírem de casa em casa, dançando e pedindo donativos para a festa destas divindades, seguidas dos tocadores de atabaque. [2] É importante ressaltar que algo muito semelhante acontece no Brasil durante o período que antecede o dia 27 de setembro, quando em alguns terreiros os adeptos saem às ruas, com a imagem de Cosme e Damião pedindo contribuições para a realização da festa.

A mesa de doces e bolos para a festa dos erês
Foto: Janaina Couvo

            E esta cerimônia religiosa é caracterizada como uma festa de crianças, com a presença de muitos doces, bolos, brinquedos e, no nordeste brasileiro, o concorrido caruru, que tem como principais elementos o quiabo, camarão, castanha de caju, amendoim, azeite de dendê e outros tantos condimentos, atraindo um público considerável aos terreiros.  O Antropólogo Raul Lody ressalta que, além do Caruru, outras comidas também são servidas neste ritual, como a farofa de dendê, legumes cozidos, frangos, bananas fritas, acarajés, abarás entre outras. [3]

A comida que é servida às crianças durante a ceia
Foto :Janaina Couvo

Em torno desta “alimentação ritual”  encontramos um elemento importante das religiões afro-brasileiras: a socialização entre os adeptos, visitantes e a comida.  Na grande maioria dos rituais dos terreiros, a alimentação se faz presente, integrando divindades e pessoas que, neste momento, participam direta ou indiretamente da cerimônia.

As crianças comem  e recebem doces e bolos durante o ritual
Foto: Janaina Couvo

            A “Ceia de Cosme e Damião” corresponde a um destes momentos, em que encontramos a presença significativa de crianças entre os principais freqüentadores deste ritual.  Existe a integração entre as pessoas que vão assistir a festa, os adeptos e as crianças, que, maravilhadas com a quantidade de doces e de brinquedos, ficam encantadas.  Alguns adeptos incorporam os Ibêjis, tornando a festa mais agitada.  Observa-se o cuidado dos demais integrantes do grupo religioso, no que diz respeito ao controle dos ibêjis e das crianças durante a cerimônia.  É servido o caruru seguido de outras iguarias e, para encerrar a festa, a entrega das sacolas com doces e brinquedos.
Percebe-se que, em alguns lugares onde o terreiro está inserido, a comunidade toda participa, expressando uma integração importante na formação de qualquer grupo religioso.  Desta forma, em torno do caruru de Cosme e Damião, que também se faz presente na capital sergipana, durante todo o mês de setembro, é possível encontrarmos em diversos terreiros de Umbanda e Candomblé, assim como em algumas residências, ceias e distribuição de doces em várias partes da cidade. Os devotos que não podem oferecer o caruru durante o mês de setembro oferecem até o dia 26 de outubro, dia em que também são celebrados os santos gêmeos: São Crispim e São Crispiniano.

E VIVA COSME E DAMIÃO!! 
E VIVA OS ERÉS, IBEJIS , VUNJIS!!!





[1] O Babalaô é o sacerdote que conhece o futuro através do jogo de Ifá (búzios)
[2] LIMA, Vivaldo da Costa. Cosme e Damião – o culto aos santos gêmeos no Brasil e na África. Salvador: Corrupio, 2005, p.24.
[3] LODY, Raul. Ibêjis, orixás gêmeos e infantis. IN: O Povo do Santo- religião, história e cultura dos Orixás, voduns, Inquices e Caboclos. Rio de Janeiro: Pallas, 1995, p.244-245.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

2 DE FEVEREIRO, FESTA PARA IEMANJÁ ! - Rio Vermelho, Salvador-Ba




     Em vários terreiros de candomblé e umbanda,  o dia 2 de fevereiro é dedicado a homenagear Iemanjá, a Rainha do Mar, mãe de todos os orixás.  Esta divindade, que  representa a força das águas, dos oceanos, é bastante cultuada no Brasil, e  uma cidade se destaca  neste dia por   realizar a mais de 90 anos  uma grande festa para  esta divindade.

    Trata-se da região do Rio Vermelho, em Salvador- Ba, onde existe uma tradicional comunidade de pescadores e diversas histórias que relatam a origem desta festa.  Uma destas histórias ressalta que a festa  teve início  quando os pescadores  resolveram  entregar presentes para Iemanjá, devido a escassez de peixes, e tiveram seus pedidos atendidos.  Por isso, o presente mais aguardado todos os anos  durante esta festa, é o que eles chamam  de "presente principal", ou  seja, o presentes dos pescadores  desta comunidade. 

   Chega  na madrugada do dia 2 de fevereiro, em um  cortejo, sendo saudado por uma  série de fogos.  Durante todo o dia , este presente fica exposto para que todos possa ver e fazer seus pedidos, juntamente com outros presentes que desde o dia 1 de fevereiro chegam à casa de Iemanjá. 

   A praia fica repleta de pessoas, terreiros de candomblé e umbanda, que montam suas  tendas e realizam seus rituais.  De uma simples rosa, até os balaios mais repletos de perfumes, espelhos, pentes, e demais  presentes, são oferecidos à Rainha do Mar!

   Seguem algumas imagens desta festa:


O presente principal dos pescadores  para Iemanjá

Detalhe do presente

A fila para entregar os presentes para Iemanjá

O comércio de flores e  demais elementos utilizados para oferecer à Rainha do mar

A praia do Rio Vermelho no dia da Festa

As tendas  organizadas pelos terreiros

Pessoas levam suas rosas para Iemanjá

As várias oferendas que chegam a todo momento na praia

Mais oferendas...

Num determinado espaço, são colocados diversos balaios para serem levados pelos pescadores

A presença de crianças na festa, sejam  caracterizadas, levando suas oferendas ou mesmo brincando com o mar...

Chegam os Marujos, Caboclos e demais entidade para saudar Iemanjá

No final da tarde, os pescadores organizam a entrega do presente principal, a bela imagem da Rainha do Mar...

A imagem segue na embarcação, levada para o mar...



       Assim  a festa continua, os terreiros e demais devotos de Iemanjá  entregam suas oferendas  até o início da noite.  Da mesma forma continua o outro lado da festa, os blocos, fanfarras e demais comemorações que agitam o bairro do Rio Vermelho, em Salvador até a madrugada...


ODOIÁ!!

Texto e fotos de Janaina Couvo